A pobreza voltou aos níveis do começo da década (2011). Portanto, esse período caracteriza-se como uma década perdida. Olhando para a desigualdade, o retrocesso não fica atrás. Desde 1989 o Brasil não experimentava mais de três anos de aumento consecutivo de desigualdade. A piora na performance social do Brasil também explica o mau desempenho econômico.
O FGV Social lançou o levantamento “Qual foi o impacto da crise sobre a pobreza e a distribuição de renda?”. O estudo indica aumento da pobreza e da desigualdade até o segundo trimestre de 2018. Segundo o estudo, hoje, há 23,3 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, com rendimentos abaixo de R$ 232 por mês; cerca de 11,2% da população. A miséria subiu 33% nos últimos quatro anos. São 6,3 milhões de novos pobres — mais do que a população do Paraguai – adicionada ao estoque de pobreza.
Do final de 2014 até junho deste ano, o Índice de Gini subiu a uma velocidade 50% maior do que vinha caindo na época de queda da desigualdade brasileira, iniciada em 2001. Perfazendo quase quatro anos consecutivos de aumento de concentração de renda. Isso não acontecia desde a derrocada do Plano Cruzado de 1986 até 1989, o recorde de desigualdade nas séries brasileiras.
Segundo Marcelo Neri, diretor do FGV Social e coordenador do levantamento, a nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) revelou uma grande queda de renda per capita média do trabalho desde o ápice no final de 2014 até meados de 2016 quando voltou-se aos níveis de 2012. De lá para cá, recuperou-se 40% desta perda média. Já o bem-estar social caiu 10,6% desde 2014 até meados de 2016, regredindo a patamar similar ao de 2012. No entanto, diferentemente da renda per capita média, o bem-estar manteve-se nestes níveis desde então. Isso quer dizer que, em termos bem-estar geral da nação, não se pode falar em recuperação, mesmo que tímida. Essa aparente contradição ocorreu, pois o avanço conquistado pela renda média foi neutralizado pela alta da desigualdade.
A PNAD mostrou perda de renda de 7% em 2015. Já a nova PNAD Contínua revelou queda de renda individual do trabalho, não ficando restrita somente aos ocupados. Entre 2015 e 2018, a renda média caiu 3,44%. Esta perda foi mais forte entre os jovens (-20,1% entre 15 e 19 anos e -13,94% entre 20 e 24 anos), entre pessoas com ensino médio incompleto (-11,65%), entre os responsáveis dos domicílios (-10,38%) e regiões Norte (-6.08%) e Nordeste (-6.43%).
A própria desigualdade aprofunda a recessão, já que os pobres consomem uma parcela maior da renda. O aumento da pobreza foi impulsionado por essa forte recessão acompanhada pela piora da desigualdade. O bolo de renda caiu para todos, mas mais ainda para os mais pobres. O desemprego explica a totalidade da queda de renda do trabalho dos brasileiros.
A pobreza voltou aos níveis do começo da década (2011). Portanto, esse período caracteriza-se como uma década perdida. Olhando para a desigualdade, o retrocesso não fica atrás. Desde 1989 o Brasil não experimentava mais de três anos de aumento consecutivo de desigualdade. A piora na performance social do Brasil também explica o mau desempenho econômico.
O FGV Social possui uma longa tradição em captar as inflexões das séries sociais brasileiras. O centro é reconhecido pela rapidez com que processa os microdados públicos. A equipe foi a primeira a detectar a queda da pobreza depois do Plano Real, assim como, o seu aumento no primeiro ano do governo Lula; detectando ainda as quedas consecutivas posteriores. Por fim, o FGV Social mostrou também que o Brasil atingiu com antecedência as metas de redução de pobreza dos “Objetivos do Desenvolvimento do Milênio” da ONU.
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