O diretor do FGV Social, Marcelo Neri, fez a palestra magna na solenidade de abertura do 60º Congresso Nacional de Hotéis – Conotel 2018, em Fortaleza. O encontro é um dos mais tradicionais eventos da indústria hoteleira e do setor de turismo do país. Neste ano o congresso reuniu mais de 4 mil pessoas e promoveu intercâmbio entre os setores ligados ao turismo brasileiro. Neri, realizou a palestra a convite de Luis Gustavo Barbosa, que comanda o núcleo de turismo na FGV Projetos, e abordou o tema “Desafios Socioeconômicos e Turismo Receptivo”.
“Quais são os dois ativos diretos do turismo? Além da infraestrutura física, a natureza e a cultura estão à frente na sustentabilidade do negócio. A pobreza da população nativa é transformada quando se investe em turismo. Mas existe um problema de externalidades, como falta de saneamento e sujeira nas praias, por exemplo”, disse Neri, baseado em avaliações do FGV Social.
“No período de 2008 a 2017, o turismo receptivo registrou crescimento na receita principalmente na Ásia em comparação com África e Oriente Médio. O mercado hoje é 34% Europa e 34% Ásia, que agora deve ter ultrapassado o velho continente – as Américas aparecem com 24% de aumento no período. O Brasil, em termos de indústria turística, ainda não disse a que veio, com registro de 6 milhões de turistas por ano, enquanto o México tem 34 milhões e Canadá, menor em população, 18 milhões. O Brasil é mentalmente muito fechado, e precisa estar mais aberto não só para o turismo, mas à imigração. De 2003 a 2017 o turismo no Brasil cresceu pouco, impulsionado pelos grandes eventos esportivos que o país recebeu. Precisamos muito desenvolver e temos potencial para o turismo. ”
Dados locais sobre o setor também foram apresentados. Segundo Neri, o estado mais participativo no desempenho do turismo receptivo doméstico em 2011 é São Paulo, com 20,6%. Rio de Janeiro e Santa Catarina vêm a seguir, com 8,3% e 7,1% respectivamente. O lazer ainda impacta mais o turismo no país, acompanhado pela “ameaça” representada pela concorrência que é a princípio boa mas acaba sendo predatória no caso do Airbnb, o maior hotel do mundo.
A ascensão da classe C também foi lembrada por Neri. Ele destacou que de 2003 a 2015, a classe C foi a que mais cresceu, configurando maior registro de voos por pessoas que nunca haviam viajado por este meio. “O problema do Brasil hoje é que a desigualdade está aumentando. É preciso que haja o crescimento da renda de quem faz turismo. A população brasileira cresce 0,8% ao ano, e precisamos nichar o público que está crescendo, como idosos e estudantes de nível superior”. Mostrando as projeções do envelhecimento da população, Neri falou sobre a importância da terceira idade para o Turismo, um público com alta renda e tempo disponível.
“O Brasil tem potencial para turismo receptivo e outros tipos. Sobretudo, o brasileiro é comprovadamente o povo mais satisfeito com a vida futura, o que sinaliza a nossa capacidade de sonhar. Mas isso pode ser prejudicial no ponto de vista de investimentos presentes em educação, produtividade ou poupança”. Ao finalizar sua apresentação, Neri debateu a agenda para o setor, enumerando os principais desafios a serem vencidos. “Na economia, é preciso evolução em produtividade, abertura, ajuste fiscal, ambiente de negócios e educação. No Turismo receptivo, é preciso atacar 5 frentes infraestrutura, internet, impostos, isonomia com Airbnb e inclusão social”.
A apresentação do economista está disponível no site. Marcelo Neri também publicou um estudo sobre o assunto, intitulado “Turismo Sustentável e Alivio à Pobreza (Tsap): avaliação de impacto de um programa de desenvolvimento ao turismo no Brasil” publicado na Revista de Administração Pública (RAP), da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE).
Confira a entrevista "Economia no Turismo" realizada pela Revista Hotel News.