Marcelo Neri foi entrevistado pelo jornal O Globo para falar sobre pesquisas do FGV Social na área de Economia das Religiões.
Em 2011, o FGV Social publicou na Revista Horizonte, a principal publicação ligada ao tema de religiosidade, o artigo Novo Mapa das Religiões. O estudo já mostrava que entre as 27 unidades da federação e nas respectivas capitais ou nas periferias das grandes cidades, os mais católicos estavam crescendo mais que as demais áreas. O levantamento apontou a evolução recente das diferentes crenças para os diferentes grupos sócio-demográficos e geográficos brasileiros. Qual foi a mudança das diferentes religiões? Quais são os estados mais e menos católicos? E o número de pessoas sem religião? Qual a religião com maior peso na nova classe média brasileira e entre os pobres? Que religião os jovens estão seguindo? As mulheres ainda são mais religiosas que os homens? Qual é o ranking aberto de religiões no país? Qual a porcentagem de renda apropriada por cada grupo religioso? - Foram algumas das perguntas respondidas pela pesquisa. O levantamento também traçou um panorama de longo prazo da diversidade religiosa brasileira, analisando a evolução das diferentes crenças desde o final do século XIX. Também ofereceu novos dados comparados entre 156 países sobre a frequência em atividades religiosas e sobre a importância da religião percebida em diferentes nações. O estudo ofereceu à sociedade o mais completo levantamento estatístico sobre religiões do país.
Na nova pesquisa, Neri afirma que há uma tendência muito forte de queda do catolicismo: “É um movimento que já tem algumas décadas, claro, mas, adotando uma visão histórica, não deixa de ser recente. No Censo Demográfico de 1950, 95% ainda afirmavam ser católicos. A queda mais acentuada começou depois dos anos 1980, chegando a 64% no último Censo, em 2010. Resta saber se esses dois terços são um piso ou se a queda vai prosseguir. ”
Para Neri, enquanto o boom econômico, após a recessão de 2003, coincidiu com o crescimento de igrejas protestantes tradicionais (como batistas e metodistas), nossos estudos indicam que neopentecostais (linhas mais novas, como a Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Mundial do Poder de Deus) crescem em crises como a recente. Vimos isso acontecer durante as chamadas décadas perdidas dos anos 1980 até meados de 1990. É uma tese a ser testada de novo. E acrescenta: “É preciso ter cuidado com este tema, tão fascinante quanto delicado”.
Nos territórios da velha pobreza brasileira, como as áreas rurais do Nordeste, o catolicismo continua predominante. Os neopentecostais continuam crescendo em particular na periferia das metrópoles.
O diretor do FGV Social lembra que, comparando os casos de vários países, os evangélicos não ultrapassam 30% da população. O único caso em que se ultrapassou esse índice foi na Guatemala, em um cenário de guerra civil prolongada onde novas igrejas surgiram e prosperaram. Para Neri, “a religião no Brasil possui características únicas, é uma variável importante para captar a nossa subjetividade. Observar e detalhar a sua evolução é acompanhar a própria transformação da sociedade brasileira ao longo das décadas. Além disso, ela define nossa presença no resto do mundo. Eu tive a oportunidade de vivenciar isso na Nicarágua, Índia, África do Sul. Se você chegar nesses países com insônia, ainda se adaptando ao fuso horário, e ligar a TV no meio da noite, fatalmente vai se deparar com um pastor brasileiro ou uma igreja nacional, em programas como os que temos aqui. É um genuíno produto de exportação.”
Confira a entrevista na íntegra em http://cps.fgv.br/midias/entrevista-crise-favorece-os-neopentecostais
Confira outros materiais do FGV Social sobre o tema:
- Pesquisa “Novo Mapa das religiões”
- Pesquisa “Economia das Religiões: Mudanças Recentes”
- Pesquisa “Retratos das Religiões no Brasil”
- Artigos “Economia das religiões”, “A maior economia católica”, “Crise Metropolitana e conversão religiosa” (Veja outros artigos e papers)
- Panorama de Dados – Evolução da Religiosidade