Covid, Classes Econômicas e o Caminho do Meio: Crônica da Crise até Agosto de 2020
Sobre a pesquisa:
Levantamento de classes econômicas brasileiras realizado a partir de dados factuais coletados durante a pandemia mostra que o número de pobres no Brasil (renda domiciliar per capita até ½ salário mínimo) caiu 15 milhões entre 2019 e agosto de 2020. Uma queda de 23,7%, ritmo muito superior ao observado em momentos de boom social no Brasil, como nos períodos seguintes ao lançamento dos planos de estabilização como o Cruzado em 1986 e o Real em 1994, atingindo os menores níveis da série histórica com um estoque de 50 milhões de pobres. Já os estratos mais abastados com renda acima de dois salários mínimos per capita perderam 4,8 milhões de pessoas em plena pandemia. Ambos os movimentos, aliados ao crescimento populacional do período (1,6 milhões), impulsionam o contingente intermediário compreendido entre os dois intervalos. O miolo da distribuição de renda tupiniquim cresceu em cerca de 21,5 milhões de pessoas, quase meia população Argentina. A queda simultânea no topo e na base da distribuição populacional se deve a combinação dos efeitos econômicos deletérios da pandemia à adoção de amplas medidas para mitigar os seus efeitos, como a concessão do Auxílio Emergencial (AE) e o Benefício Emergencial (BEm) trabalhista. As taxas de redução de pobreza no Nordeste (-30.4%) e Norte (-27.5%), regiões que possuem maiores parcelas do público-alvo do Auxílio Emergencial, foram superiores às demais.
Abrindo as mudanças de classes econômicas no tempo, cerca de 13.1 milhões que haviam saído da pobreza até julho de 2020 apesar da queda de renda trabalhista no primeiro trimestre da pandemia de -20.5% na média e -27.9% na metade inferior da distribuição de rendimentos, paradoxo explicado pelo Auxilio Emergencial. Apenas em agosto mais 2 milhões de brasileiros saíram da pobreza. O topo da distribuição que havia perdido 5,8 milhões de pessoas até julho, recupera um milhão em agosto, gerando no segundo momento um incremento liquido adicional de um milhão de pessoas no meio da distribuição. Esta expansão dos segmentos intermediários de renda, identificados com a chamada classe C, se deve a recuperação parcial do terremoto no mercado de trabalho em todas as classes e ao auxílio emergencial pleno. O auxilio emergencial atingiu um pico de 67 milhões de beneficiários diretos a um custo de 322 bilhões em nove meses, cujo valor supera 9 anos de Bolsa Família, conforme proposta orçamentaria de 2021. Este resumo da ópera de três classes e dois atos, é apenas o começo da crônica de uma crise. As transferências oficiais emergenciais caem à metade agora e desaparecem em 31 de dezembro quando teremos meia população da Venezuela de volta à velha pobreza apenas pelo fim do efeito-auxilio, fora novos programas sociais e as cicatrizes trabalhistas de natureza mais permanente abertas pela crise.
Para além das mudanças de renda, as PNADs Covid aferem alguns comportamentos em relação à pandemia nos diferentes estratos econômicos. O segmento mais pobre, que é alvo do Auxilio Emergencial, apresenta taxas mais baixas de isolamento social, por exemplo, em agosto, 6,15% deste grupo ficou rigorosamente isolado e 40,7% ficou em casa e só saiu por necessidade básica, nível inferior à média da população total. Estes resultados sugerem que o Auxilio Emergencial impactou mais os níveis de renda, e que os mais pobres não conseguiram exercer ações mais ajustadas às necessidades impostas pela pandemia.
I TEXTO - SUMÁRIO EXECUTIVO
I Vídeo (3'39'')
I Mapa - % Pessoas com renda domiciliar per capita por classes de salário mínimo - Variação Julho a Agosto 2020
I Mapa - % Pessoas com renda domiciliar per capita por classes de salário mínimo - Variação 2019 a julho 2020
I Mapa - % Pessoas com renda domiciliar per capita por classes de salário mínimo - Agosto/2020 - Nível