Diretor da FGV Social, Marcelo Neri discute os novos resultados acerca da evolução da pobreza e desigualdade no país em pesquisa divulgada com base nos dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio Contínua (PNADC), que apresenta o primeiro ano do governo Bolsonaro e o último retrato social do país antes da pandemia do Covid-19.
De acordo com Neri, a pesquisa apresenta boas e más notícias. Além do aumento na pobreza extrema pelo quinto ano consecutivo, a frágil recuperação da economia se perdeu, com queda de um terço no crescimento da renda média: a pesquisa registrou 1,3% de crescimento na renda real per capita em 2018-19 versus 3,9% entre 2017-18. Por outro lado, a desigualdade, que vinha em alta por praticamente 20 trimestres, finalmente começou a cair, reduzindo em 3 pontos do Gini. É importante ressaltar que enquanto a renda finalmente superou o seu valor pré-crise (1,19% acima do valor de 2014), o bem-estar (variável que leva em conta não só crescimento da renda, mas também sua distribuição) ainda se encontra abaixo de 2014.
As perdas reais do Bolsa Família e o surgimento de filas para recebimento do programa se apresentam como fatores importantes, segundo Neri, para se entender o crescimento vertiginoso no contingente de extremamente pobres no país. Por um lado, o benefício médio perdeu 18,8% de poder de compra desde 2014. Isso se deu por que o valor oferecido pelo programa não foi corrigido segundo à inflação em 2015 (quando esta girava em torno de 10%) nem em 2017 (já com inflação menor). Ademais, o número de beneficiários vem caindo em um momento em que mais pessoas precisavam ser atendidas. O resultado foi o surgimento de uma fila de 1,5 milhão de pessoas esperando para serem cobertas pelo programa. O custo do programa Bolsa Família é de apenas 0,4% do PIB e seus impactos são expressivos: além de ser a transferência social do governo que mais impacta a base da distribuição de renda, o programa faz a economia girar: Para cada R$1 gasto com o Bolsa Família são gerados R$1,78 para a economia brasileira.
Por fim, Marcelo Neri diz que o Brasil desaprendeu, nos últimos anos, a cuidar dos mais pobres e vulneráveis, visto que além do aumento na extrema pobreza, os grupos tradicionalmente excluídos, negros e trabalhadores da área rural tendem a perder mais que o brasileiro médio no país. A exceção são as mulheres, que por serem mais escolarizadas que os demais grupos acima mencionados, acabaram estando melhor protegidas no período em questão - visto que este foi mais favorável aos mais escolarizados e localizados no topo da distribuição de renda. Neri mostra que nos últimos cinco anos, a renda dos analfabetos caiu e a de quem tem superior completo passou a crescer.
Assista ao vídeo do diretor do FGV Social analisando os dados da PNADC em https://youtu.be/3WOifDyEDUM
Para mais informações ou geração de dados sob demanda entre em contato com a FGV Social:
Tel.: (21) 3799-2320 / E-mail: fgvsocial@fgv.br ou marcelo.neri@fgv.br
Veja o estudo desenvolvido pelo FGV Social “Balanço Social 2019: O Brasil chegou ao topo da desigualdade?” em https://cps.fgv.br/destaques/balanco-social-2019-o-brasil-chegou-ao-topo-da-desigualdade
Confira a análise “A extrema pobreza e o Bolsa Família” em https://cps.fgv.br/destaques/fgv-social-comenta-os-cortes-no-bolsa-familia-e-o-aumento-da-extrema-pobreza-no-brasil