A Renda dos Ricos – FGV Social debate a desigualdade a partir do Imposto de Renda

25/07/2019

O Diretor do FGV Social, Marcelo Neri, debateu a desigualdade com Pedro Souza do Ipea e Marta Arretche do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) no “Globo News Painel”, programa apresentado pela jornalista Renata Lo Prete. O centro do debate foi o papel da renda dos ricos de acordo com os dados do Imposto de Renda da Pessoa Física – IRPF (assista a parte 1 e 2 do programa). “A desigualdade mede a distância entre as pessoas, você não consegue medir a desigualdade como um todo só com os dados dos mais ricos, mas acopla-la as pesquisas domiciliares que tendem a “sub-reportar” esta faixa de renda. Por outro lado, mudanças institucionais podem produzir o efeito oposto nas tendências deste grupo. De 2007 a 2011, por exemplo, os dados do imposto de renda mostraram que a renda real do brasileiro teria subido 10% ao ano, o que seria um novo milagre econômico. Infelizmente, acho que isso não ocorreu”, disse Neri durante o debate.

Para o diretor do FGV Social, “é importante não só olhar para a divisão do bolo, como também para o tamanho do bolo. No período Collor, por exemplo, a desigualdade brasileira caiu muito, mas isto ocorreu porque os ricos perderam mais do que os pobres. O que todos nós queremos é uma melhora no bem-estar social, e a desigualdade é um dos componentes do bem-estar. A história contada a partir dos dados do IRPF é uma história muito mais próspera do que realmente ocorreu.” Neri também levou ao programa uma versão abrasileirada do famoso “gráfico do elefante” de Branko Milanovic (veja o gráfico abaixo), que mostra a evolução da distribuição de renda do mundo de 1988 até 2011 colocada lado a lado com a do Brasil. Nele, percebemos que enquanto a renda do mundo cresceu mais na “nova classe média chinesa” (meio da distribuição) e menos na classe média tradicional americana ou europeia (percentil 90); no Brasil, tivemos um crescimento de renda maior entre os mais pobres (na base da distribuição).

Marcelo Neri e Marcos Hecksher (IPEA e Ence/IBGE) analisaram a desigualdade brasileira a partir dos dados do IRPF em artigo publicado no jornal Valor Econômico: “A desigualdade no imposto de renda” (veja a versão estendida clicando aqui). Os autores mostraram que os dados disponíveis pelo IRPF, embora representem um avanço, ainda trazem tanto ruído como informação sobre a trajetória da distribuição de renda, que, segundo todas as bases públicas, caía até o país entrar em crise. Segundo eles, “uma base pública amostral de dados longitudinais desidentificados do IRPF ajudaria a entender melhor por que certos grupos de pessoas e rendas entram e saem das declarações ou das rendas isentas. Permitiria ao país formular e discutir propostas embasadas de eficiência e equidade tributária, importantes para uma retomada sustentável do crescimento com equilíbrio social e fiscal. ”

O aumento da desigualdade brasileira também tem sido mostrada pela impressa internacional, como nas reportagens publicadas no “The New York Times” e na Bloomberg.

 

Gráfico apresentado no Globo News Painel