Marcelo Neri participou do 24º Rencontres Économiques d'Aix-en-Provence, França, realizado nos dias 6 e 7 de julho de 2024. A questão central de sua seção foi: “Pobreza: como transformar o custo da inflação? ” Em particular, Neri explorou as ligações dos indicadores sociais com os mercados eleitorais. Trouxe à tona características e lições do caso brasileiro: uma democracia ainda jovem e mudanças associadas.
Durante sua palestra, Neri trouxe dois pontos principais: Primeiro, está relacionado com a existência de um marcado oportunismo político cíclico. Em 10 dos 11 anos eleitorais federais, a pobreza monetária caiu, embora tenha aumentado na maior parte dos anos pós-eleitorais. “A resposta, claro, não é que devamos ter eleições todos os anos; restrições foram introduzidas, mas muitas vezes são evitadas”. Ele testou os mecanismos e constatou que a renda dos programas sociais (CCTs Bolsa Família) sobe 23% em anos eleitorais. E aumenta 3,4% a mais entre aqueles em idade de votar, que é 16 anos ou mais no Brasil. Os gastos com educação também caem em termos relativos durante as eleições. As crianças não votam, uma solução utópica era as mães votarem pelos filhos numa transição. Complementando a introdução do voto feminino introduzida em 1932.
Em segundo lugar, a hipótese da introdução da identificação eletrônica do voto: Descontinuidade explorada no artigo de Fujiwara de 2014: em 1994, apenas a votação em papel foi usada; 1998 municípios com mais de 40.500 eleitores receberam as urnas eletrônicas e, finalmente, em 2002, todos utilizaram o voto eletrônico. Resultados: percentagem de votos inválidos 30% menor, especialmente em municípios com taxas de analfabetismo mais elevadas, os analfabetos muitas vezes riscavam as cédulas de papel invalidando os votos. Outra é o aumento dos gastos com saúde pública (ganho de 34% em 8 anos). A renda dos analfabetos cresceu duas vezes mais rápido que a média durante o período seguinte. Depois disso, a desigualdade caiu 14 anos consecutivos. Outras séries sociais estruturais, como as relacionadas com a pobreza multidimensional, também apresentam tendências descendentes mais acentuadas. Uma exceção são as tendências de insegurança alimentar, o que é surpreendente, dado o papel global do Brasil na produção de alimentos. O voto eletrónico é visto aqui como um exemplo de como as características dos mercados eleitorais podem criar incentivos para cuidar dos pobres.
Veja currículo e vídeo da sessão em https://www.lesrencontreseconomiques.fr/evenements/session-13-pauvrete-transformer-le-cout-de-linaction/