FGV Social lança a pesquisa: "Tempo para Escola na Pandemia"

20/10/2020

Qual é o tempo total dedicado ao estudo durante a pandemia? Como variaram a matrícula e a jornada escolar em casa por faixa etária? E por estrato de renda?  O tempo de estudo foi mais afetado pela falta de oferta de materiais remotos pelos gestores educacionais ou pela falta de interesse dos estudantes? Como variam todas as respostas acima por estados e pelos municípios das capitais?

O objetivo central dessa pesquisa é municiar os gestores públicos e privados de políticas educacionais e os demais atores envolvidos na educação (professores, pais e alunos) respondendo a estas perguntas e oferecendo outras informações a respeito do tempo total dedicado em casa para a escola durante a crise do Covid-19, seus determinantes próximos e a natureza dos problemas percebidos, se de oferta ou de demanda.

Propomos um indicador síntese que marca como um relógio as horas dedicadas por cada estudante potencial ao aprendizado à distância. Este indicador integra a questão discreta de estar ou não matriculado, com a marcação dos dias e das horas de fato empenhados no ensino remoto. O tempo para escola médio para o grupo de 6 a 15 anos em Agosto de 2020 calculado a partir dos microdados da PNAD Covid foi de 2,37 horas diárias por dia útil, logo inferior ao mínimo da Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDBE). Quanto mais velho é o estudante, menor é o tempo dedicado para o estudo remoto. Os adolescentes de 16 e 17 anos matriculados se dedicam relativamente mais ao ensino remoto, mas sofrem com uma maior evasão escolar, e por isso apresentam no computo geral menor tempo para escola que as crianças entre 6 e 15 anos. Há também um salto relevante a partir dos 18 anos, com queda do tempo para escola de 2,34 para 0,95 horas/dia. O principal componente que explica essa diferença é a queda da taxa de matrícula escolar de 90% para 35%, fato que já ocorria antes da pandemia.

A falta de atividades escolares percebidas pelos estudantes é mais relacionada à inexistência de oferta por parte das redes escolares do que a problemas de demanda dos próprios alunos. Enquanto 13,5% dos estudantes de 6 a 15 anos não receberam materiais dos gestores educacionais e professores, apenas 2,88% não utilizaram os materiais que receberam por alguma razão pessoal. A análise por estrato de renda mostra que quanto mais pobre é o indivíduo, menor é a frequência na escola, menor a quantidade de exercícios recebidos e, pra piorar, menor o tempo dedicado aos exercícios recebidos. Consequentemente, menor foi o tempo para escola. É importante ressaltar que os alunos mais pobres são 633% mais afetados pela falta de oferta de atividades escolares que os alunos mais ricos. Conclui-se que a desigualdade de oportunidades e de resultados educacionais aumentará durante a pandemia, quebrando tendência histórica de décadas.

A análise territorial para o grupo de 6 a 15 anos mostra que o Acre é a última colocada entre as Unidades da Federação, com menos que a metade do tempo para escola do líder Distrito Federal (1,29 e 2,96, respectivamente). Mesmo os melhores colocados entre os estados e capitais também não tiveram um tempo para escola superior à jornada escolar mínima proposta pela LDBE, que é baixa para padrões internacionais. A falta de oferta de atividade escolar se dá por falta de envio de material por parte da rede de ensino,  indo de 2,09% dos estudantes no Paraná a 45,3% no Pará. De maneira geral, alunos da região Norte também menos se envolveram com as poucas atividades que receberam, fatos que sugerem a existência de problemas de infraestrutura domiciliar e de demanda por parte desses alunos, além de um agravamento nas desigualdades regionais de educação  no Brasil pós-pandemia. Ao fim e ao cabo, os resultados apontam para uma perda do crescimento e da equidade na acumulação de capital humano, com efeitos negativos para o país no longo prazo.


Veja a pesquisa "Tempo para Escola na Pandemia"em http://www.fgv.br/cps/TempoParaEscola