FGV Social lança a pesquisa Retorno para Escola, Jornada e Pandemia

19/01/2022

FGV Social lança pesquisa “Retorno para Escola, Jornada e Pandemia” com informações inéditas sobre o tempo dedicado ao estudo durante a crise do Covid-19, seus determinantes e a natureza dos problemas educacionais percebidos. O ponto de partida do estudo é a aferição dos movimentos de saída e de volta à escola durante o período de pandemia. As crianças mais novas saíram mais e retornaram menos a escola até o final de 2021 que as mais velhas. Se a perda de matrículas na pandemia para faixa de 5 a 9 anos revela uma volta aos níveis de 2006, esta perda é ainda maior em medidas mais amplas de tempo de estudo, principalmente na baixa renda. O tempo total de estudo dos alunos pertencentes ao Bolsa Família caiu à metade entre 2006 e 2020. Vacinação infantil se mostra como condição necessária para a recuperação escolar de crianças pobres. 
 
Qual foi a mudança na evasão escolar e no tempo total dedicado ao estudo incluindo jornada remota, durante a pandemia do Covid-19? Já há reversão das mudanças provocadas pelo distanciamento social? Como variaram estes elementos por faixa etária discente? E por estrato de renda?  O tempo de estudo foi mais afetado pela falta de oferta de materiais remotos, ou pela falta de interesse dos estudantes? Como variam todas as respostas acima por diferentes redes estaduais de ensino? 
 
De maneira geral, o segmento mais adversamente afetado na pandemia foram os estudantes potenciais mais novos. Por exemplo, a taxa de evasão para o grupo de 5 anos de idade, fase crucial desenvolvimento da pessoa como argumenta o estudo, é multiplicada por 3,33 vezes e chega ao pico de 22,4% na pandemia com impactos de longo prazo sobre qualidade educação desta coorte. Região geográfica, redes de ensino e renda familiar, se apresentam como canais de transmissão dos efeitos adversos observados na chamada geração Covid.
 
Sem retorno - Há aumento da taxa de evasão escolar na faixa de 5 a 9 anos de 1,41% para 5,51% entre os últimos trimestres de 2019 e 2020. Voltamos neste ápice da evasão do Covid-19 aos níveis de 14 anos antes. No terceiro trimestre de 2021 a taxa de evasão volta a 4,25% ainda cerca de 128% mais alta que o observado no mesmo trimestre de 2019. O impacto sobre a matrícula estudantes de idades mais altas foi distinto. De forma consistente as crianças apresentaram as taxas mais altas de distanciamento social rigoroso (39,1% de 5 a 9 anos contra 23,9% daqueles com 60 anos ou mais ou 10,1% de 15 a 19 anos em setembro de 2020). 
 
Sem tempo de estudo - Complementarmente, propomos um indicador síntese que marca como um relógio as horas dedicadas por cada estudante potencial ao aprendizado presencial ou à distância. O tempo para escola médio para o grupo de 6 a 15 anos em setembro de 2020 foi de 2 horas e 23 minutos por dia útil, cinco minutos inferior à média da faixa de 15 a 17 anos. Invertendo a posição deste último que era 34 minutos menos em 2006. Os alunos mais pobres, os da rede pública, aqueles em lugares mais remotos e em particular os mais novos foram os que mais perderam tempo de estudo durante a pandemia. Por exemplo, o tempo dos alunos de 6 a 15 anos pertencentes ao Bolsa Família entre 2006 e 2020 caiu 2 horas (de 4 horas e 1 minuto para 2 horas e 1 minuto). Revelando perdas efetivas maiores que as observadas nas matriculas escolares. 
 
Sem oferta de atividades escolares - A falta de atividades escolares percebidas pelos estudantes é mais relacionada à inexistência de oferta por parte das redes escolares do que a problemas de demanda dos próprios alunos. Enquanto 12% dos estudantes de 6 a 15 anos não receberam materiais dos gestores educacionais e professores, apenas 2,7% não utilizaram os materiais que receberam por alguma razão pessoal. A falta de oferta de atividade escolar se dá por falta de envio de material por parte da rede de ensino, indo de 38,9% dos estudantes no Pará a 2,09% no Paraná. Há um agravamento nas desigualdades de educação no Brasil durante a pandemia, invertendo a tendência prévia ao crescimento e a equidade na acumulação de capital humano desde um nível muito baixo. Os alunos das séries iniciais que tinham obtido os maiores avanços escolares nas quatro últimas décadas foram os mais penalizados durante a pandemia. A vacinação das crianças contra o Covid-19 se apresenta como medida fundamental para o retorno a escola com mais segurança para todos.
 
 Veja a pesquisa completa no site: https://cps.fgv.br/RetornoParaEscola