Como a pandemia afetou as diversas classes econômicas até agosto de 2020? O grupo elegível em renda ao “Auxílio Emergencial” foi mais ou menos impactado que os demais? O que explica as mudanças observadas no tamanho de cada classe? Quais regiões e estados do país tiveram maior queda de pobreza? E quais localidades percorreram o caminho contrário? O que os dados sugerem sobre o comportamento de cada classe em relação ao distanciamento social? Que lições podemos tirar comparando o momento com o período pré-pandemia e as mudanças de Julho para agosto de 2020? Quais são as perspectivas para frente?
Levantamento de classes econômicas brasileiras realizado a partir de dados factuais coletados durante a pandemia mostra que o número de pobres no Brasil (renda domiciliar per capita até ½ salário mínimo) caiu 15 milhões entre 2019 e agosto de 2020. Uma queda de 23,7%, atingindo os menores níveis da série histórica com um estoque de 50 milhões de pobres. Já os estratos mais abastados com renda acima de dois salários mínimos per capita perderam 4,8 milhões de pessoas em plena pandemia. Ambos os movimentos, aliados ao crescimento populacional do período (1,6 milhões), impulsionam o contingente intermediário compreendido entre os dois intervalos. O miolo da distribuição de renda tupiniquim cresceu em cerca de 21,4 milhões de pessoas, quase meia população Argentina. A queda simultânea no topo e na base da distribuição populacional se deve a combinação dos efeitos econômicos deletérios da pandemia à adoção de amplas medidas para mitigar os seus efeitos, como a concessão do Auxílio Emergencial (AE) e o Benefício Emergencial (BEm) trabalhista. As taxas de redução de pobreza no Nordeste (-30.4%) e Norte (-27.5%), regiões que possuem maiores parcelas do público-alvo do Auxílio Emergencial, foram superiores às demais.
Este resumo da ópera de três classes e dois atos é apenas o começo da crônica de uma crise. As transferências oficiais emergenciais caem à metade agora e desaparecem em 31 de dezembro quando teremos meia população da Venezuela de volta à velha pobreza apenas pelo fim do efeito-auxilio, fora novos programas sociais e as cicatrizes trabalhistas de natureza mais permanente abertas pela crise.
Para além das mudanças de renda, as PNADs Covid aferem alguns comportamentos em relação à pandemia nos diferentes estratos econômicos. O segmento mais pobre, que é alvo do Auxilio Emergencial, apresenta taxas mais baixas de isolamento social. Estes resultados sugerem que o Auxilio Emergencial impactou mais os níveis de renda, e que os mais pobres não conseguiram exercer ações mais ajustadas às necessidades impostas pela pandemia.
Visite o site da pesquisa em http://www.fgv.br/cps/CovidClasses