O diretor do FGV Social participou do seminário “Empreendedorismo na base da pirâmide – inovação social, colaboração e desafios” na Casa FIRJAN. Marcelo Neri realizou a palestra de abertura: “Empreendedorismo e combate à Pobreza - Tem sentido? ”. O seminário, organizado pelo Sebrae Rio, em parceria com a Casa Firjan, o CIEDS e o Banco da Providência; teve como objetivo sensibilizar e construir uma agenda pública positiva e estruturada para tratar do tema do empreendedorismo na base da pirâmide.
Para Carla Texeira Panisset (coordenadora do “Comunidade Sebrae”), o suporte ao empreendedorismo nas comunidades pode ser uma forma de aumentar a autonomia, por via do empoderamento econômico de famílias vulneráveis: “A colaboração entre os poderes público e privado, o Sistema S e o terceiro setor pode aumentar nossas possibilidades de combater a pobreza”, disse.
A superintendente do Banco da Providência, Clarice Linhares e o pesquisador da Universidade de Toronto, Leandro Pongeluppe; realizaram a apresentação da “Avaliação de Impacto do Banco da Providência”. A instituição atua há quase 60 anos. Hoje o foco está em projetos de capacitação profissional e geração de renda para a população em pobreza extrema no RJ.
Em sua palestra, o diretor do FGV Social, mostrou que, desde 2014, houve o crescimento da desigualdade e do desemprego. A proporção de empregadores e conta-próprias também cresceu neste período, mas em número menor, funcionando como um colchão contra a crise: “As pessoas começaram a exercer atividades de “conta-própria” para fugir do desemprego, contudo esse crescimento não foi durador. Os conta-próprias, por exemplo, cresceram 2 milhões entre 2014 e 2015, mas diminuíram 1 milhão somente em 2016. Além dos desafios de qualidade da oferta, há limites na demanda por produtos e serviços destes novos negócios”, disse.
O diretor do FGV Social também mostrou que, entre a população em idade ativa (olhando para os conta-próprias e empregadores), o percentual de empreendedores é maior no topo da pirâmide econômica (classe A/B) e menor na base (classe E). Olhando a distribuição espacial de empreendedores no mapa do município do Rio de Janeiro, também percebemos que as RAs (regiões administrativas) mais ricas da cidade são as que tem a maior taxa de empreendedores.
Contudo, essa visão muda se levarmos em conta somente os ocupados. Dentro desse grupo, a taxa de empreendedorismo é maior na base da pirâmide econômica. A classe E corresponde a 44,7% enquanto que nas classes A/B esse percentual é de 31,7%. Olhando para as faixas de renda (também entre os ocupados), os 50% mais ricos tem uma taxa de 28,6%, enquanto que os 5% mais pobres são 47%. De qualquer forma não basta melhorar os negócios já existentes, é preciso gerar novos trabalhos.
Se comparamos indivíduos com as mesmas características (idade, sexo, nível educacional, etc), a taxa de empreendedorismo é maior na Barra da Tijuca e em Jacarepaguá, tornando essas regiões os polos de empreendedorismo no Rio de Janeiro. Curiosamente, a Barra da Tijuca é o local com a maior desigualdade na cidade.
Para Neri, existem desafios e cuidados necessários para se chegar até os empreendedores mais pobres. Há o desafio da formalização entre os ocupados mas se esta for condição necessária ao apoio microempresarial, os pobres não serão atingidos. Enquanto que nas classes AB 11,4% têm CNPJ, na classe E esse percentual é de somente 0,24%.
O diretor do FGV Social também lembrou das ações desenvolvidas pelas instituições presentes no encontro: “Eu vejo hoje o trabalho do SEBRAE nas comunidades e a mudança de cultura ocorrida. Observo também o Banco da Providência usando o Bolsa Família como estratégia para chegar aos mais pobres. O Bolsa família é um caminho já pavimentado. Com ele é possível chegar a esse público”, disse.
Dados do MEI (que surgiu em 2009 para formalizar os microempreendedores), foram mostrados por Neri, que sugeriu um upgrade no programa; criando uma espécie de “Super-MEI” com diferentes faixas (aumentando o número de empregados, por exemplo) dando uma maior liberdade para o empregador crescer (hoje o MEI só pode contratar 1 trabalhador): “No Brasil, você tem um regime tributário que favorece quem tem pouca renda, alguns microempreendedores não querem crescer o seu negócio, para não pagar mais imposto”.
Neri elencou diversas políticas de apoio aos pequenos negócios; como a assessoria mercadológica, capacitação e certificação dos profissionais, educação formal e sócio emocional, estratégias de inovação e formalização; além de políticas de transferência de renda (como o Bolsa Família) e de microfinanças (como o CrediAmigo).
Confira a palestra “Empreendedorismo e combate à Pobreza - Tem sentido?” (Marcelo Neri/FGV Social)
Veja o debate com perguntas enviadas do público para o diretor do FGV Social
Assista na íntegra o evento “Empreendedorismo na base da pirâmide – inovação social, colaboração e desafios”